Um software manutenção bem especificado transforma o gerenciamento da manutenção elétrica, integrando documentação técnica, ordens de serviço, histórico de ativos e requisitos de segurança para garantir conformidade com a NR-10 e a NBR 5410. Mais do que controle de tarefas, a solução ideal permite mitigar riscos de choque e arco elétrico, organizar certificações e laudos elétricos, reduzir tempo de reparo e otimizar estoque de peças críticas — entregando benefícios mensuráveis em segurança, confiabilidade e redução de custos operacionais.
Antes de aprofundar em funcionalidades e requisitos, vale alinhar como um sistema deve priorizar segurança e conformidade desde a modelagem de ativos até a execução do trabalho em campo.
Funções essenciais de um software manutenção para instalações elétricas
Um bom sistema substitui planilhas e cadernos por processos padronizados que incorporam controles de segurança. As funções essenciais servem tanto à automação administrativa quanto à prevenção de acidentes elétricos.
Gestão de ativos e hierarquia elétrica
O cadastro deve representar a planta elétrica com hierarquia coerente: subestação → alimentador → quadro → painel → carga. Cada ativo precisa de atributos técnicos: tensão nominal, corrente de projeto, classe de isolamento, potência, impedância do transformador, tipo de proteção (disjuntor, fusível) e dados de fabricante. Essa modelagem permite rastrear histórico de intervenções, laudos, certificados de ensaio e desenhos unifilares exigidos pela NBR 5410 e facilita estudos de coordenação e seletividade.
Ordens de serviço e roteiros técnicos
Ordens de serviço devem incluir checklist técnico e de segurança: verificação de bloqueios, checklist de bloqueio e etiquetagem (lockout-tagout), isolamento de fases, uso de EPI/EPF e atividades de teste (medição de resistência de isolamento, verificação de continuidade de proteção). O sistema precisa suportar templates que obriguem procedimentos, responsáveis e aprovações, além de registrar evidências (fotos, medições, laudos).
Programação preventiva e preditiva
Agendamento automático com critérios por horas de operação, cargas ou medições (por exemplo, programar termografia a cada 12 meses ou substituição de baterias a cada 5 anos). Para manutenção preditiva, integrar leituras (termografia, vibração, corrente, parcial discharge) e acionar ordens quando thresholds técnicos são ultrapassados. Isso reduz intervenções desnecessárias e antecipa falhas que podem gerar risco de arco elétrico.
Gestão de peças, estoque e compras
Controle de estoque com definição de níveis mínimos, lead times, cross-references e criticidade para permitir a disponibilidade de peças de proteção e componentes de emergência. Integração com compras e fluxo de aprovação minimiza tempos de inatividade e risco de improvisações inseguras que violam procedimentos normativos.
Documentos técnicos e conformidade
Centralização de manuais, certificados de calibração, laudos de ensaio (ensaios de resistência de isolamento, resistência de aterramento, teste de relés), desenhos e procedimentos normalizados. O sistema deve prover versionamento e controles de acesso para garantir que equipes em campo utilizem documentos atualizados, conforme exige a NR-10.
Mobilidade, offline e evidência digital
Aplicativo móvel com capacidade offline é essencial para intervenções em subestações sem conectividade. Registro de evidências (fotos, vídeos, leituras) e assinaturas digitais suportam auditoria e demonstram conformidade em inspeções e auditorias de segurança.
Relatórios, indicadores e auditoria
Dashboards com KPIs como MTBF, MTTR, número de ordens pendentes, tempo médio de atendimento e taxa de conformidade com inspeções previstas. Relatórios configuráveis devem atender exigências internas e demandas de auditoria relacionada à segurança e à norma técnica.
Com as funções básicas claras, é preciso entender como o software protege pessoas e patrimônios na prática.
Segurança, conformidade e gerenciamento de risco
A aplicação deve colocar a segurança no centro: cada fluxo de trabalho precisa reduzir a probabilidade de exposição a riscos elétricos e documentar as medidas preventivas para cumprir a legislação e proteger equipes e instalações.
NR-10 e requisitos legais
A NR-10 exige análise de risco, permissões de trabalho, capacitação e procedimentos operacionais para atividades em instalações elétricas. O software deve armazenar registros de capacitação, emitir bloqueios e autorizações e documentar análises de risco por atividade. Isso cria histórico probatório em caso de auditorias ou investigação de incidentes.
NBR 5410 e conformidade de instalações
A NBR 5410 determina critérios de proteção contra choques elétricos, seccionamento, seletividade, aterramento e proteção contra sobrecorrentes. O software deve facilitar a rastreabilidade de inspeções e laudos que comprovem a conformidade desses itens, incluindo periodicidade de testes e evidências de correção de não conformidades.
Gestão de risco elétrico e estudos de arco
Integração de resultados de estudos de arco elétrico e de proteção permite definir níveis de EPI/EPF e procedimentos especiais. O sistema deve registrar cálculos de energia incidente, tempos de atuação dos dispositivos de proteção e recomendações de mitigação (barreiras, afastamentos, painéis blindados).
Permissões de trabalho e controles técnicos
Automatizar permissões de trabalho com pré-requisitos técnicos: ordenamento de desligamento, sinalização, testes de tensão, comprovação de aterramento temporário e assinatura dos responsáveis. O registro destas permissões é elemento central para redução de acidentes e para cumprir exigências regulamentares.
Ensaios e inspeções periódicas
O sistema deve programar e registrar ensaios obrigatórios: teste de resistência de isolamento, teste de continuidade das malhas de aterramento, aferição de relés de proteção e ensaio de disjuntores. Historizar resultados e disparar ordens corretivas quando parâmetros saiam da faixa tolerável consolida a manutenção preventiva com foco em segurança.
Após entender a contribuição do software para a segurança, programações e estratégias permitem reduzir falhas e custos.

Estratégias de manutenção suportadas pelo software
O software deve suportar múltiplas estratégias de manutenção e guiar a escolha com base em criticidade, risco e custo — desde planos preventivos rígidos até manutenção preditiva orientada por condição.
Manutenção preventiva baseada em tempo e uso
Execução automática de tarefas periódicas com checklists padronizados garante que itens críticos sejam inspecionados conforme frequência técnica preconizada. Para elementos de proteção (disjuntores, DPS, relés), a periodicidade é definida por risco e histórico de falhas.
Manutenção preditiva por condição
Integração com sensores permite manutenção baseada em condição: termografia identifica pontos quentes, análise de corrente revela sobrecargas, análise de descargas parciais detecta degradação do isolamento e vibrações indicam falha mecânica. O software deve correlacionar sinais, aplicar thresholds técnicos e gerar ordens automáticas antes de falhas catastróficas.
Manutenção centrada em confiabilidade (RCM)
O sistema suporta processos de RCM, incluindo mapeamento de funções, modos de falha e efeitos, priorizando ações mitigatórias com base na criticidade e nos custos. Ferramentas de FMEA integradas ajudam a documentar justificativas técnicas para manutenções realizadas.
Analítica e machine learning
Modelos de previsão (por exemplo, regressão em série temporal) podem estimar vida útil residual de ativos críticos. O software com módulos analíticos permite identificar padrões de falha e otimizar planos, reduzindo manutenções desnecessárias e aumentando disponibilidade.
Métricas e melhoria contínua
O uso de KPIs alinhados à segurança (incident rate, conformidade com inspeções) e à performance técnica (disponibilidade, custos por hora de parada) cria base objetiva para decisões de investimento em mitigação e modernização.
Para que esses fluxos funcionem, integração técnica com automação e sistemas corporativos é imprescindível.
Integração com automação, IoT e sistemas corporativos
A troca de dados confiável entre sensores, controladores e o software é crucial: sem integração, o melhor planejamento não resolve falhas que se manifestam com sinais não monitorados.
Conexão com SCADA/PLC e BMS
Integração com SCADA e PLC fornece telemetria em tempo real: correntes, tensões, alarmes de proteção e estados de chaves. O uso de protocolos industriais como Modbus, OPC UA e IEC 61850 deve ser suportado para capturar dados que alimentam análises e ordens automáticas.
IoT e sensores remotos
Sensores de corrente, transformadores de corrente com medição de harmônicos, câmeras termográficas e sensores de parcial discharge devem enviar dados com timestamp e metadados de saúde do sensor. O software precisa normalizar entradas e aplicar filtros para evitar falsos positivos.
Integração ERP e compras
Sincronização com ERP garante visibilidade de custo, compras e gerenciamento de contratos. A integração reduz duplicidade de cadastros, melhora controle financeiro de ordens e garante rastreabilidade de peças críticas, importantes para garantir disponibilidade e evitar substituições improvisadas.
Segurança cibernética e governança de dados
Segregar a rede de automação da rede corporativa, usar VPN, TLS, autenticação multifator e controle de acesso por função são requisitos mínimos. Logs imutáveis e backup criptografado asseguram integridade de registros usados em auditorias e investigações de incidentes.
Historiadores e modelos de dados
Manter um historiador de dados com compressão e retenção configurável permite análises de longo prazo, identificação de tendências e suporte a modelagem preditiva. Metadados padronizados (unidades, locais, IDs de ativos) são fundamentais para consistência.
Com integração adequada, a implantação transforma-se em um projeto de governança técnica que exige planejamento e mudança cultural.
Implantação, parametrização e governança
Implementar um sistema de manutenção é tanto técnico quanto organizacional. Falhas comuns decorrem de dados ruins, ausência de processo e treinamento inadequado.
Fases do projeto
Fases típicas: levantamento de requisitos, definição de ativos e hierarquia, migração de dados, desenvolvimento de fluxos (workflow), integração com sistemas existentes, testes, piloto e roll-out. Cada fase deve incluir critérios de aceitação claros ligados a segurança e conformidade.
Modelagem de ativos e qualidade de dados
Padronizar nomenclatura, atribuir códigos únicos e incluir atributos técnicos obrigatórios evita inconsistências. Dados incompletos geram ordens erradas e risco operacional. Validadores automáticos ajudam a manter padrões de qualidade.
Permissões, papéis e responsabilidades
Definir papéis (planejador, técnico, responsável de segurança, autorizador) e fluxos de aprovação que bloqueiem execução sem pré-requisitos reduz exposição a riscos. Controle de acesso por função também protege documentos críticos e registros de calibração.
Treinamento e mudança cultural
Treinamentos devem abranger operação do software e reforçar práticas de segurança. Um piloto com equipe reduzida permite ajustar processos. Gamificação e metas de uso ajudam na adoção; falta de uso é a principal causa de falha de projetos.
Validação e aceitação
Testes de aceitação devem incluir cenários de segurança: geração de permissões de trabalho, execução de ordens com checklist de isolamento, registro offline, integração com sensores e emissão de relatórios de conformidade. Somente após validação técnica e de segurança procede-se ao roll-out completo.
Escolher o fornecedor certo exige critérios objetivos que vão além do preço.
Critérios técnicos e comerciais para escolha do software manutenção
A seleção deve priorizar aderência técnica, capacidade de integração e maturidade em aplicações relacionadas a instalações elétricas e segurança.
Funcionalidade e adequação técnica
Verificar suporte a CMMS, gestão de documentos, módulos de segurança (permissões de trabalho), integração com protocolos industriais e capacidade de ingestão de telemetria. Testar com dados reais facilita avaliar aderência.
Compatibilidade com normas brasileiras
Confirmar que a ferramenta permite trilhas de auditoria e relatórios com campos exigidos por NR-10 e NBR 5410, além de suporte a idiomas, formatos de laudos e requisitos regulatórios locais.
Escalabilidade, performance e disponibilidade
Avaliar arquitetura (nuvem, on-premise, híbrida), mecanismos de alta disponibilidade e estratégia de backup. Para subestações e operações críticas, latência e capacidade de operação offline são determinantes.
Segurança e conformidade de TI
Exigir políticas de segurança, certificações (ISO 27001 é um diferencial), testes de penetração e cláusulas contratuais sobre responsabilidade por vazamentos e incidentes.
Suporte, SLA e roadmap
Verificar SLA de atendimento e suporte técnico local, disponibilidade de equipe especializada em elétrica e compromisso de evolução do produto em direção a funcionalidades preditivas e de integração.
Custo total de propriedade
Considerar licenças, customização, integração, treinamento, infraestrutura e custos recorrentes de suporte. Medir retorno esperado por redução de falhas, tempo de parada e diminuição de riscos.
Mesmo com seleção criteriosa, existem riscos na implantação que precisam ser antecipados e mitigados.
Riscos comuns, armadilhas na implementação e como evitá-las
Antecipar problemas reduz custo e garante que o sistema entregue segurança e conformidade desde o primeiro dia.
Dados ruins e catálogo de ativos incompleto
Risco: base de ativos inconsistente gera ordens incorretas. Mitigação: fase de saneamento de dados, uso de auditores de campo e validação por amostragem.
Baixa adesão dos usuários
Risco: técnicos retornam a práticas antigas. Mitigação: treinamento prático, suporte no piso (mentoria), alinhamento de indicadores e simplificação de telas móveis para técnicos.
Customizações excessivas
Risco: elevada complexidade e custo de manutenção. Mitigação: priorizar configurações nativas, registrar requisitos críticos e usar APIs para integrações em vez de modificações profundas.
Integrações mal planejadas
Risco: dados inconsistentes e falhas operacionais. Mitigação: prototipagem de integrações, testes com dados reais e uso de middleware ou barramento de dados industrial.
Segurança cibernética negligenciada
Risco: invasões que podem afetar controles de campo. Mitigação: segmentação de rede, hardening de dispositivos, autenticação forte e criptografia ponta a ponta.
Falta de processo para gestão de mudanças
Risco: alterações não controladas que invalidam procedimentos de segurança. Mitigação: formalizar governança, aprovações e registros de auditoria para todas as mudanças que afetem circuitos elétricos.
Resumir resultados práticos e definir próximos passos é fundamental para a execução imediata após a leitura.

Resumo de segurança e próximos passos práticos para contratação
Resumo conciso: um software manutenção bem implementado reduz exposição a riscos elétricos, garante evidências de conformidade com NR-10 e NBR 5410, melhora disponibilidade de ativos e racionaliza custos. As funcionalidades críticas incluem gestão de ativos com hierarquia elétrica, ordens de serviço com permissões de trabalho, integração com medição e termografia, controle de estoque de peças críticas e trilhas de auditoria.
Checklist prático para seleção e contratação
- Exigir demonstração com dados reais e cenário de trabalho: geração de permissão de trabalho, checklist de isolamento e registro offline.
- Verificar integração com SCADA/PLC/IoT (provar leitura de grandezas em tempo real).
- Confirmar suporte a protocolos: Modbus, OPC UA, IEC 61850 quando aplicável.
- Solicitar comprovação de conformidade com requisitos de segurança (logs imutáveis, backup criptografado, autenticação multifator).
- Avaliar SLA de suporte local e capacidade de atendimento emergencial 24/7.
- Exigir plano de implantação detalhado: saneamento de dados, pilotos, treinamentos e testes de aceitação ligados a requisitos de segurança.
- Incluir cláusulas contratuais sobre propriedade de dados, responsabilidade por vazamentos e penalidades por falhas que comprometam operação crítica.
Plano de implantação rápido (próximos 90 dias)
1) Formação da equipe do projeto (gestor, engenheiro elétrico responsável, TI, representantes de manutenção).
2) Levantamento de ativos críticos e documentação de requisitos de segurança (dias 1–15).
3) Seleção de fornecedor e prova de conceito com 5–10 ativos críticos (dias 16–45).
4) Ajustes, integração com sensores e SCADA e treinamento de equipe-piloto (dias 46–75).
5) Roll-out por fases, validação das métricas de segurança e aceitação final (dias 76–90).
Critérios de contratação técnica
- Entregar plano de testes de aceitação que inclua cenários de risco elétrico.
- Fornecer referência de clientes em instalações elétricas semelhantes.
- Garantir treinamento NR-10 para administradores do sistema e técnicos que usarão permissões de trabalho eletrônicas.
- Incluir entregáveis: dicionário de ativos, templates de ordens e checklists de segurança, política de backup e plano de continuidade.
Implementar um software manutenção não é apenas adquirir uma licença: é transformar práticas de manutenção em processos seguros, rastreáveis e eficientes. Contrate com foco em conformidade normativa, integração técnica e governança; exija provas e pilotos; e estabeleça métricas claras para medir redução de riscos, melhoria da disponibilidade e retorno do investimento.